Reticências entre palavras... Parêntesis silenciosos... Entre acentos, pontuações e tudo mais: Literatura livre é o que define este projecto. - Aberto a todos os simpatizantes das letras, da literatura, sem discriminação (...)

sábado, 11 de maio de 2013

Poesia (...) Antero de Quental - No turbilhão

No turbilhão

No meu sonho desfilam as visões,
Espectros dos meus próprios pensamentos,
Como um bando levado pelos ventos,
arrebatado em vastos turbillhões...
Num espiral, de estranhas contorções,
E donde saem gritos e lamentos,
Vejo-os passar, em grupos nevoentos,
Distingo-lhes, a espaços, as feições...
-Fantasmas de mim mesmo e da minha alma,
Que me fitais com formidável calma,
Levados na onda turva do escarcéu,
Quem sois vós, meus irmãos e meus algozes?
Quem sois, visões misérrimas e atrozes?
Ai de mim! ai de mim! e quem sou eu?!...

 Antero de Quental

Poesia (...) Alexandre O´Neill - Entre pedras, palavras...





Entre pedras, palavras...

 Que estupidez o sangue nas calçadas!
O sangue fez-se para ter dois olhos,
um lépido pé, um braço agente,
uma industriosa mão tocante.

Que estupidez o sangue entre as palavras!
O sangue fez-se para outras flores
menos fáceis de dizer que estas
agora derramadas.
  
(Alexandre O´Neill)

Poesia (...) António Ramos Rosa - Na grande confusão




Na grande confusão

Na grande confusão
deste medo
deste não querer saber
na falta de coragem
ou na coragem de
me perder me afundar
perto de ti tão longe
tão nu
tão evidente
tão pobre como tu
oh diz-me quem sou eu
quem és tu?

(António Ramos Rosa)

Poesia (...) Mário de Sá-Carneiro - Taciturno


Taciturno

Há Ouro marchetado em mim, a pedras raras,
Ouro sinistro em sons de bronzes medievais -
Joia profunda a minha Alma a luzes caras,
Cibório triangular de ritos infernais.

No meu mundo interior cerraram-se armaduras,
Capacetes de ferro esmagaram Princesas.
Toda uma estirpe rial de herois d'Outras bravuras
Em mim se despojou dos seus brazões e presas.

Heraldicas-luar sobre ímpetos de rubro,
Humilhações a liz, desforços de brocado;
Bazilicas de tédio, arnezes de crispado,
Insignias de Ilusão, troféus de jaspe e Outubro...

A ponte levadiça e baça de Eu-ter-sido
Enferrujou - embalde a tentarão descer...
Sobre fossos de Vago, ameias de inda-querer -
Manhãs de armas ainda em arraiais de olvido...

Percorro-me em salões sem janelas nem portas,
Longas salas de trôno a espessas densidades,
Onde os pânos de Arrás são esgarçadas saudades,
E os divans, em redór, ansias lassas, absortas...

Ha rôxos fins de Imperio em meu renunciar -
Caprichos de setim do meu desdem Astral...
Ha exéquias de herois na minha dôr feudal -
E os meus remorsos são terraços sobre o Mar...

(Mário de Sá-Carneiro, en 'Indícios de Oiro')

Poesia (...) Florbela Espanca - Silêncio!...




Silêncio!...

“No fadário que é meu, neste penar,
Noite alta, noite escura, noite morta,
Sou o vento que geme e quer entrar,
Sou o vento que vai bater-te à porta...

Vivo longe de ti, mas que me importa?
Se eu já não vivo em mim! Ando a vaguear
Em roda à tua casa, a procurar
Beber-te a voz, apaixonada, absorta!

Estou junto de ti, e não me vês...
Quantas vezes no livro que tu lês
Meu olhar se pousou e se perdeu!

Trago-te como um filho nos meus braços!
E na tua casa... Escuta!... Uns leves passos...
Silêncio, meu Amor!... Abre! Sou eu!...”

(Florbela Espanca)

Citações (...) José Luís Peixoto



"O livro não depende da minha intenção. Se ele não for isso, ele não deixa de ser aquilo que é para passar a ser aquilo que eu digo que ele é. Como também não depende da pessoa que lê. Haverá qualquer outra coisa, por debaixo disso tudo: a verdade, que é uma palavra muito complicada."

(José Luís Peixoto)

Citações (...) André de Chénier



"A arte apenas faz versos, só o coração é poeta." 

(André de Chénier)

Citações (...) Fernando Pessoa



“Escrever é esquecer. A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida.”

(Fernando Pessoa, Livro do Desassossego)

Prefácio



Qualquer sociedade pode definir-se pelo seu modo de produzir, de consumir, de hierarquizar, de armazenar, de comentar e de fazer circular informação sob a forma de mensagens, que podem ser oralizadas ou inscritas em diversos suportes.
Entre essas mensagens, os textos literários detêm o lugar de categoria privilegiada.
Assim sendo, a literatura pode definir-se como conjunto de obras valorizadas simultaneamente pela forma e pelo conteúdo, que suscitam julgamentos de valores, em primeiro lugar estéticos, e que dão forma a uma espécie de património cultural relativamente estável e comum a uma sociedade.