A roupa envolve-nos
a paragem do mar cresce
contigo
a língua e o sentido
tudo anda
tão ocupado tão cansado
e destruído
que a roupa em
torno morre como um foco
de ruído
O movimento cerca esta
mudez
o mar desidratado é o
abismo
onde revives
Viste os vales instáveis
do mar
mas para que é perguntar
senão que se fez de ti
O fogo sob as vozes que
não ouves
A língua vive ainda?
Inscrevo na memória
tumefacta
mais uma imagem
Esses corpos nascem
O que posso dizer para
cobri-los?
Ouves? Está comigo
a mortalidade da tua
vida
Como falar contigo? Mas
o som
produzido era tanto
que as cordas se
formavam com a sua saída
retomavam a forma
destruída
enquanto
tudo o que te dizia
dividia
um som tempestuoso
Na ocasião da queda
desses algum
olha as áreas
correspondentes no mar
volta transforma-se
é um sinal de
contradição
e sob a chuva contínua
de relâmpagos revive
Porém o som inibe-te
prossegues
sem segurança o canto a
turva cítara
vence-te não o canto
repetido
Essas cordas do peito já
distensas
submetem-se ao silêncio
poderias
escolhê-las porém sempre
repetes
os nomes desses corpos a
mudez
intimida-te assim a
poesia
nasce com o rumor dos
próprios corpos
com o bater dos nomes
entre os ombros
tão dóceis mar de
músculos
mudos
o coração do corpo
repetindo os nomes
turvos
Como é possível termos
esquecido a linguagem?
Comparámos os corpos Se
os descrevo
agora que deixámos de
falar
esqueço a igualdade e
nela cessa
a possibilidade de falar
É um erro a cidade
alguma vez a
cantaste?
Mas já não é possível a
verdade é que
definitivamente nela
morres
Por isso escolherás o
teu estilo
de novo por palavras
errarás
Na praia exterminada não
pudemos
cantar a liberdade
sobre o teu corpo correm
turvas asas
de entre as pedras
levantas a cabeça enquanto
cais
Depois a roupa gera e
espalha a escuridão
cada corpo isolado se
transforma
sob as asas que
o cobrem
Desencontramo-nos
a terra recomeça a
deter-te
preciso de dizer
esse teu nome
Mas não ouças a minha
fala transformada
Gastão Cruz